30 janeiro 2015

Crítica | A Mulher de Preto 2: Anjo da Morte

A Mulher De Preto 2: Anjo Da Morte (The Woman In Black: Angel Of Death) é o primeiro grande lançamento de horror nos cinemas brasileiros deste ano e a expectativa era muita para saber se esta sequência faria jus ao filme de 2012, estrelado por Daniel Radcliff, que acabou se tornando o maior filme de terror britânico dos últimos anos. A própria Hammer, produtora do filme, apostava muito na continuação por ver no seu sucesso, a possibilidade de desenvolver uma prolífica franquia.


O novo filme desta vez se passa durante a Blitz da Segunda Guerra Mundial, enquanto Londres é brutalmente bombardeada pela força aérea nazista. Um pequeno grupo de crianças se reune na estação de trem para fugir da cidade sob os cuidados de Eve Parkins (Phoebe Fox), uma doce e atenciosa professora, e da diretora da escola Jean Hogg (Helen McCrory), uma mulher severa e autoritária, que segundo seu marido militar, pega mais pesado com seus alunos do que ele com os seus soldados. Nesse momento conhecemos o pequeno Edward (Oaklee Pendergast), o único sobrevivente de sua família após o bombardeio na noite passada, que, desde então, não emite uma palavra sequer.


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O grupo de evacuados segue sua viagem em direção à Crythin Gifford, mais especificamente para a infame Eel Marsh House, cuja as legendas nacionais fizeram o favor de traduzir como A Casa Da Enguia Do Pântano. O plano é utilizar a residência como um tipo de internato, longe das bombas que destroem diariamente a capital e a viagem segue normalmente, até que Eve conhece Harry Burnstow (Jeremy Irvine), um piloto simpático e boa pinta, convenientemente designado para uma base aérea perto de Crythin Gifford. A química entre os dois é imediata.


Ao chegarem ao seu destino, os alunos são recolhidos em um ônibus guiado pelo Dr. Rhodes (Adrian Rawlins), que os levará até Eel Marsh House, porém no caminho um furo no pneu os obriga a parar em meio as ruínas daquela que outrora fora a cidade de Crythin Gifford. A cidade agora está ainda mais sombria do que a que conhecemos no primeiro filme e Eve toma a inteligente atitude de largar as crianças sozinhas para caminhar pelo medonho vilarejo enquanto o ônibus está sendo consertado. É claro que a sua audácia não ficaria sem punição e ela é abordada por um homem, nitidamente insano, que a alerta de que eles nunca conseguirão escapar “dela".


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Finalmente na fúnebre residência, Eve e Jean se assustam com o estado em que a casa se encontra e é impressionante notar como o lugar agora está diferente. Se a casa de A Mulher De Preto era sinistra, esta nova versão é ainda mais assustadora. Nesse ponto vale ressaltar o trabalho do design de produção de A Mulher De Preto 2: Anjo Da Morte, que consegue trazer a atual tendência do sombrio extremo, sem perder as características dos clássicos filmes de terror gótico produzidos pela Hammer nas décadas de 50 e 60. Surpreendentemente as crianças aceitam ficar ali sem nenhum tipo de reclamação, mas como Eve e Jean não têm muitas opções decidem, elas decidem ficar por ali assim mesmo, sem saber que a residente mais antiga do lugar, já está de olho nas suas crianças, porque... Sabe como é que é, né? Ela nunca esquece, ela nunca perdoa e ela nunca foi embora.


Como já disse, a atmosfera criada para esta sequência é muito mais sinistra do que a do filme de 2012. Apesar da imagem horrível (desfocada e opaca) à qual fui submetido na sala do cinema, ficou claro que nesta nova ilha, a névoa absurdamente densa e o mato sem vida, assim como a residência arruinada e o céu sempre nublado, são os principais responsáveis pelo tom ainda mais opressor do filme de Tom Harper. Somente o mais puro desespero criado pela guerra, poderia ser capaz de levar qualquer pessoa normal a passar uma noite sequer em Eel Marsh House, que aqui é um personagem à parte.


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Mas infelizmente este é o único ponto positivo a se extrair de A Mulher De Preto 2: Anjo Da Morte e, se me permitem, aqui vai um conselho aos que desejarem assistir a sequência: Não vá ao cinema sem ter visto, ou revisto, o primeiro filme. A trama aqui é tão superficial que a impressão é a de que ficaram faltando pedaços importantes do filme. Principalmente os que deveriam explicar a mitologia por trás da história de Jennet Humpfrye. Sem nenhuma pessoa conhecedora da história na cidade para guiar Eve e ajudá-la a lidar com o espírito vingativo de Jennet, as explicações são praticamente atiradas à moça (e a nós) através de visões e vozes do além – vindas inclusive do próprio fantasma de Jennet – assim como cartas ridiculamente colocadas ali para esse fim. Tudo isso interligado por uma sucessão de eventos clichézudos e convenientemente criados pelo roteiro, para permitir que a trama siga em frente. Como por exemplo em um momento em que Eve foge das ruínas da cidade, miraculosamente no exato momento em que Harry está chegando no local com seu veículo. Oras, quais seriam as chances disso acontecer em um local tão abandonado?! E assim segue o roteiro, aparentemente mais preocupado em ressaltar o passado trágico de cada personagem, do que nos explicar – e aos personagens – o verdadeiro motivo do terror produzido pela mulher de preto. O que mais uma vez me faz questionar a atual tendência de acreditar que para se desenvolver um personagem é preciso encher sua vida de draminhas.


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Sobraria então para as mortes e para os sustos a responsabilidade de fazer de A Mulher De Preto 2: Anjo Da Morte um filme minimamente interessante e, em relação aos sustos, sou obrigado a confessar que na minha opinião, os melhores momentos foram desperdiçados em trailers e clipes liberados para a divulgação do filme. O pouco que sobra são os já tradicionais jump scares, que me pareceram ser uma reciclagem do que vimos em 2012. Sem falar, é claro, que grande parte deles fica ridiculamente fácil de antecipar graças a uma entregadora trilha sonora. Mas, independentemente disso, eles acontecem com frequência e parecem ter funcionado com o resto da publico no cinema. Foram vários os momentos em que ouvi gritos na pequena platéia. Portanto, se você não assistiu muitos desses vídeos por aqui, certamente vai levar bons sustos.


Já as mortes são uma verdadeira decepção e, honestamente, nem há muito o que falar. São poucas e sem a menor graça. O que explica a baixa classificação indicativa deste filme, que praticamente se vale de sua atmosfera sombria para se tornar assustador. Nesse sentido, Harper e cinematografia de George Steel, fazem um bom trabalho. Pena que o diretor não consegui traduzir isso no clima de suspense palpável que um filme desse tipo deveria ter. Com isso, coube ao elenco carregar praticamente o filme todo nas costas até ao seu climax e à conclusão, que certamente irá chamar a atenção de alguns pelo absurdo ilógico da sequência final. Muita gente ficará se perguntando como aquilo foi possível. Acredite. Eu fiquei.


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Tendo crescido assistindo aos clássicos filmes da Hammer, é com pesar que digo que A Mulher De Preto 2: Anjo Da Morte é o primeiro grande lançamento do ano, mas também é a primeira grande decepção à chegar aos cinemas nacionais. Honestamente eu queria muito gostar muito desse filme. Principalmente por conta da ambientação criada para ele. Mas infelizmente a trama vazia e sem graça, e a falta de suspense, mostram que a principal preocupação do roteiro foi muito mais dar alguns sustos enquanto nos mostra um conjunto de personagens sofridos e despedaçados pela guerra, do que fazer isso enquanto nos conta a história de terror por trás da mulher de preto. Depois de filmes como A Marca Do Medo (The Quiet Ones) e A Mulher De Preto 2: Anjo Da Morte, a Hammer precisa reavaliar urgentemente seus conceitos daqui pra frente, pois se a produtora tinha intenção de realmente transformar A Mulher De Preto em uma franquia, essa sequência desnecessária deixou seus planos com meio corpo afundado na lama do pântano.

Um comentário:

  1. Eu não gostei do primeiro, então acho q não vou gostar desse.

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