Crítica | Assim na Terra Como no Inferno (2014)

Cerca de seis milhões de ossos humanos revestem as paredes das catacumbas labirínticas, são uma dádiva absoluta de Deus para um cenário de filme de terror.

Na superfície, 'Assim na Terra Como no Inferno' parece ser um típico filme de terror preenchido com estereótipos presos em uma situação demasiadamente familiar. No entanto, rapidamente se torna evidente de que com seu roteiro inteligente e sua execução precisa, este Thriller de baixo orçamento é um corte acima do típico gênero. Surpreendentemente, o filme acaba fazendo jus ao seu começo auspicioso, pois se joga contra suas próprias convenções no ato final, resultando no melhor filme de found-footage desde o primeiro [REC] (2007).

Por um lado bom, o filme não toma um caminho desgastado de caçadores de fantasmas, ele fantasticamente ousa ser diferente em centrar a narrativa em busca de um artefato perdido há muito tempo. 'Assim na Terra Como no Inferno' começa como uma montanha-russa de emoções onde o público é jogado direto para a ação, deixando uma sensação de emoção a flor da pele após Scarlett e sua busca por pistas levá-la a uma série de túneis proibidos do Oriente Médio, onde tarde demais, descobre que os túneis estão prestes a serem explodidos. Em um lance de câmera brilhantemente tenso, mostra Scarlett tentando escapar no meio de escombros que voam para a câmera em todas as direções.

A arqueóloga urbana Scarlett (Perdita Weeks) foi retirada do mesmo tecido que Indiana Jones, sem medo de se aventurar em áreas perigosas em sua busca sincera para encontrar um artefato conhecido como a Pedra Filosofal, um objeto criado na Idade Média, que supostamente é capaz de transformar metais em ouro e é a chave para a vida eterna. A jovem sabe que ao encontrar este objeto ela transformaria a sua carreira e transformaria o mundo em um lugar melhor, ela também quer limpar o nome de seu pai, que foi dado como louco ao tentar encontrar o mesmo objeto e por fim cometeu suicídio.

Tendo descoberto uma pista chave para o paradeiro da pedra com a ajuda de seu ex-colega George (Ben Feldman), ela pede a ajuda de Papillon (François Civil), um especialista em navegar nas catacumbas que se encontram abaixo de Paris, onde ela acha que reside a famosa relíquia. Acompanhado de seus colegas colegas exploradores Souxie (Marion Lambert) e Zed (Ali Marhyar), bem como o documentarista Benji (Edwin Hodge) no reboque, estes seis entram de cabeça para baixo na Cidade da Luz em busca do tesouro, mas encontram algo muito diferente.

Alguns podem persistir que o uso da técnica de found-footage foi usada aqui como sendo algo óbvio e exagerado, mas John e seu irmão, Drew que co-escreveu o roteiro, emprega o uso do found-footage de uma maneira lógica e o utiliza de uma forma que impossibilita que o espectador retire a atenção da história, complementando cada passo do grupo. Grande parte do suspense no filme é construído em torno da crescente sensação de claustrofobia que aumenta à medida que o grupo viaja cada vez mais fundo sob os túneis - com os movimentos das câmeras portáteis que foram instaladas em cada uma das lanternas dos personagens - tirando ainda mais o fôlego quando o grupo passa por lugares apertados onde as paredes parecem estar se aproximando cada vez mais.

No entanto, é roteiro dos irmãos Dowdles 'que no final surpreende, de princípio nos leva por um caminho familiar, apenas para tomar um rumo interessante no terceiro ato, ultrapassando nossas expectativas. Com o grupo dando continuidade à sua busca desenfreada por uma saída, todos os ambientes que os cercam mudam lentamente até que se torne evidente que a realidade dos aventureiros de alguma forma foi alterada. Onde caminhos que aparecem em linha reta ainda tornam a circular de volta para onde tudo começou, com o surgimento constante de objetos que logicamente não podem estar nas catacumbas e o avistamento de pessoas que supostamente não habitam mais este mundo, Dowdle constrói efetivamente em cima de cada um desses eventos inexplicáveis, criando uma sensação de pavor que é sublinhada pelo elenco.

No fim das contas, é o fato de que o filme realmente oferece um grau de esperança para os seus personagens que o separa do restante dos filmes do gênero. Considerando que a maioria dos atos tomados levam cada membro do grupo até determinada desgraça, Assim na Terra Como no Inferno é um filme sobre redenção, e é nisso que seus espectadores devem se atrelar. Cada um dos sobreviventes é forçado a entrar em acordo com um evento de seu passado que eventualmente retornou para assombra-los, ao fazer isso eles devem fazer as pazes, oferecendo a cada aventureiro um grau de salvação. Quando Scarlett diz no início do filme "temos que seguir em frente", - o que parece ser uma sugestão horrível já que os problemas do grupo só aumentam, - em última análise, a frase revela-se como um bom conselho que só aqueles dispostos a reconhecer seus erros inevitáveis do passado terão a oportunidade de conseguir sair.